Juiz Dredd
é um personagem criado no Reino Unido por John Wagner e Carlos Ezquerra em 1977
e lançado na revista “2000 AD” que vive num futuro próximo em que a polícia concentra numa mesma função de
policiar, acusar, julgar e executar a pena do criminoso no momento da prisão.
Num Estado
totalitário que limita as garantias individuais tentando gerir a miséria
através de seu sistema penal, temos uma história que seria de ficção
científica, mas que em nada se distancia de nossa realidade social.
Infelizmente,
policiais que fazem seu próprio julgamento e executam seus suspeitos de forma
arbitrária sob a ovação do público que busca seu revanchismo sem questionar que
pode ser o próximo não são exclusivos dos quadrinhos.
Uma
sociedade repleta de comunidades carentes e um governo dominado por mega
corporações cuja única instituição presente é a do braço forte da polícia que
possui total liberdade para manter os descontentes sob controle eliminando as
possíveis ameaças é um retrato tanto de Mega City 1 como do Brasil.
Isso
apenas para destacar o óbvio, sem adentrar na ausência de diálogo e extremo
positivismo de todas as decisões, em que a lei é rígida e imperativa, não se
flexionando conforme o caso, ainda que amparado por critérios de bom senso e
justiça.
Em Juiz
Dredd Megazine 18 lançado aqui pela Editora Mithos vemos uma história
originalmente lançada em 2001 e escrita por Alan Grant em que o Juiz ao prender
um usuário de drogas e ao conduzi-lo até sua casa para inspeção descobre um
laboratório de Granja, droga semelhante à maconha, que era cultivada por
assistentes sociais para fabricação de remédio para 2 milhões de portadores de
DGM, uma doença que paralisa a pessoa e causa muitas dores e que não possuíam
condições de adquirir os medicamentos necessários. Logicamente não houve
diálogo, mas apenas a mera aplicação da lei e a prisão de todos em cubos por
períodos de 1 a 15 anos. Ao menos ninguém foi executado, além dos 2 milhões de
doentes que ficarão sem seu remédio.
Assim,
enquanto policiais/juízes continuam com seus arbítrios, julgando e aplicando
sua própria lei, tanto nos quadrinhos como na vida real, nos satisfazemos com a
resposta punitiva que apenas castiga sem ao menos questionar como chegamos a
esse ponto, em que a vida vale tão pouco e a miséria é administrada à base de
sangue.
Boa
leitura!