Olá pessoal!
Confiram nosso trabalho publicado no XXII Congresso Nacional de Linguística e Filologia, no INSTITUTO DE LETRAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO (UERJ).
ANGELO AGOSTINI: UM HERÓI NA LUTA
CONTRA O XENOFOBISMO
Cesar Augusto Lotufo (UNESA)
lotufocesar@gmail.com
Andre Luis Soares Smarra (UNESA)
andre@smarra.com.br
Angelo Agostini é um dos pioneiros na construção da linguagem sequencial
dos quadrinhos. Em meio às controvérsias sobre a primeira HQ do
mundo – para os norte-americanos, “The Yellow Kid”, de Richard Outcault
(1863-1928), publicado esporadicamente na revista “Truth”, entre os anos
de 1894 e 1895; para os ingleses, foi a revista “Comic Cuts”, com muito
texto e poucos quadrinhos, lançada em 17/05/1890, pelo magnata da imprensa,
Alfred Harmsworth, depois Lord Northcliffe, em Londres –, seu
primeiro personagem, o caipira “Nhô Quim”, já aparecia na revista “Vida
Fluminense”, na sua famosa aventura “Impressões de uma Viagem à Corte”,
em 30/01/1869! O impacto desse lançamento é tanto, que essa data é reservada
ao “Dia do Quadrinho Nacional”. Angelo Agostini (1843-1910), o
ítalo-brasileiro, jornalista e fundador da mundialmente conhecida “Revista
Illustrada” (1876), foi um abolicionista e republicano, que através de suas
ilustrações e HQs – Nhô Quim e Zé Caipora –, fazia sátiras aos monarquistas,
escravistas e membros da das elites brasileiras, sobretudo do cotidiano
carioca. A HQ “As Aventuras de Zé Caipora” (1883), uma espécie de Tarzan
tupiniquim, ganhou status internacional. O que poucos conhecem é a
sua luta contra o xenofobismo de nobres, “senhores de chácara” cariocas,
cidadãos brancos e cidadãos mulatos que negavam a sua negritude, que era
direcionado aos escravos africanos e aos “escravos” chineses, que começaram
a chegar ao Rio de Janeiro em 1812 e em 1819, já formavam uma colônia
de 300 pessoas. Tal fato foi registrado por Johan Moritz Rugendas
(1802-1858), em seu livro Viagem pitoresca através do Brasil, entre 1821 e
1825. Os chineses vieram para o Brasil, a fim de preencher um déficit de
escravos africanos, consequência da proibição do comércio negreiro pelos
ingleses, que consideraram tráfico. Esses chineses trouxeram a sua cultura
do plantio de chá, além de mudas e sementes, que foram plantadas, inicialmente,
na fazenda da Família Imperial, depois Jardim Botânico Real. Depois,
com a chegada de mais chineses, a Fazenda Real de Santa Cruz também
recebeu a cultura do chá, assim como as terras do Alto da Boa Vista,
que foi ligado ao Jardim Botânico Real em 1856, por uma estrada construída
por chineses. Esses chineses eram caçados, quando fugiam, e castigados
impiedosamente. Sofriam os efeitos dos preconceitos da época, norteada
pelas ideias de Arthur de Gobineau (1816-1882), o Conde de Gobineau, um
diplomata francês, racista e xenófobo ao extremo, que viveu na corte do
imperador D. Pedro II e escreveu o livro que serviu de base para as ideias
racistas de Hitler, As raças humanas, em meados do séc. XIX, onde condenava
o processo de miscigenação étnica do Brasil. Angelo Agostini lutou
furiosamente contra o ódio destilado por parte da sociedade carioca em
relação aos negros e os chineses. Mesmo depois da assinatura do Tratado de
Amizade, Comércio e Navegação, em 1881, entre o Brasil e a china, onde o
imperador D. Pedro II estava proibido de trazer chineses para o Brasil, já
que eram tratados como escravos, o comércio ilegal de chineses continuou.
Mais uma vez, desencadeou uma campanha feroz contra esse tráfico e contra
o tratamento dado aos chineses, através de seus desenhos, que tem um
complexo significado social, discutido até hoje, no campo da Semiótica. A
Revista Illustrada, tornava-se assim, um pilar relativizador, graças a linguagem
destes quadrinhos e de seus personagens, na luta contra o xenofobismo.
O seu clássico quadrinho sobre a “evolução da espécie humana”, publicado
na Revista Illustrada N.120, p. 8, de 13/07/1878, tornou-se um clássico.
Nessa ilustração, observamos um escravo africano, seguido de um camponês
chinês, e depois desse, um bem vestido cidadão branco, observados por
um indignado cidadão mulato, já que o chinês tomara o seu lugar na escala
evolutiva das culturas! Os autores do presente trabalho investigam como os
personagens 100% nacionais, de Angelo Agostini, participaram dessa luta
contra o xenofobismo e pelo fim da servidão, já que na década de 1880 os
conflitos étnicos eram comuns na Cidade do Rio de Janeiro e em outros
centros urbanos do Brasil.
Palavras-chave: Xenofobismo. Angelo Agostini. Histórias em Quadrinhos.