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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

LÚCIFER: RELIGIÃO, QUADRINHOS E PSICANÁLISE

A personificação do mal sempre esteve presente em nossa sociedade, nas histórias das sociedades primitivas, nas religiões e lendas, mas poucos se enraizaram tanto no imaginário popular como Lúcifer, o anjo caído, expulso do céu por Deus para gerenciar as almas enviadas ao Inferno.
Na Bíblia, contos medievais, como Fausto na literatura de Goethe, o personagem adentrou na cultura pop através da música, principalmente o blues, na figura de Robert Johnson que teria feito um pacto com o tinhoso, no cinema em filmes como Coração Satânico e o Exorcista e também nos quadrinhos, como a figura de Mefisto da Marvel.
Mas, a meu ver, foi em Sandman de Neil Gaiman, mais precisamente no arco Estação das Brumas, que ele ganha uma de suas leituras mais interessantes.
Conhecemos um Diabo sarcástico e debochado que já está cansado de administrar o Inferno e por isso decide se aposentar. Para tanto, ele entrega a chave do lugar para o senhor do sonhar, para que ele decida a quem entregar tal responsabilidade.
Com isso, Estrela da Manhã vem para a Terra e abre um piano bar em Los Angeles. E para nossa felicidade, tal acontecimento ganha um derivado nas mão super talentosas de Mike Carey, que passa a dar continuidade às histórias do primeiro dos caídos de forma inteligente e muito habilidosa.
E é esse mesmo Lúcifer que também ganhou uma série de tv, cuja primeira temporada estreou na Netflix. Num primeiro momento torci o nariz, pois, embora com a mesma origem, as histórias tinham pouca relação com os quadrinhos, não só pela caracterização, mas pelos roteiros.
Nos quadrinhos, Lúcifer está sempre envolvido com questões do seu passado, temas sobrenaturais e de magia, criaturas estranhas. No primeiro arco ele é procurado por Amenadiel, um anjo que lhe pede para ajudar a encontrar uma nova entidade na Terra que está realizando desejos aos mortais e em troca ele ganharia uma carta de passagem de volta ao Paraiso.  
Já na série de tv ele conhece uma jovem policial que não é afetada por seus encantos e começa a ajuda-la investigando os crimes que aparecem em cada episódio. O que poderia ser um desastre, torna-se muito divertido, pois consegue demonstrar outras facetas do personagem: sua busca por identidade (inclusive através de consultas periódicas à uma psicóloga), seus conflitos com o pai, suas escolhas, a compreensão sobre a humanidade e seu livre arbítrio.
E para ajudar, o roteiro é muito bem bolado, com diálogos bem escritos e tiradas impagáveis, uma vez que ele em nenhum momento esconde quem é, embora ninguém acredite. E o ator é formidável, com um sotaque britânico e irônico, consegue dar humor e profundidade ao personagem na forma como merece.
Assim, no lugar de estragar uma mitologia iniciada nos quadrinhos, a série a amplia e dá novos matizes. Agora é esperar que as editoras se animem e lancem os outros encadernados do quadrinho que ainda não foram publicados no Brasil.
E como em uma das falas de Lúcifer nos quadrinhos e que é repetida em um dos episódios: “As pessoas me culpam por tudo. Eu não obrigo ninguém a fazer nada. Eles pertencem a si mesmos, mas odeiam ter que encarar isso.”
Boa leitura e bons sonhos!
 

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