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domingo, 2 de setembro de 2018

ANGELO AGOSTINI: UM HERÓI NA LUTA CONTRA O XENOFOBISMO

Olá pessoal!

Confiram nosso trabalho publicado no XXII Congresso Nacional de Linguística e Filologia, no INSTITUTO DE LETRAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO (UERJ).


ANGELO AGOSTINI: UM HERÓI NA LUTA CONTRA O XENOFOBISMO 

Cesar Augusto Lotufo (UNESA) lotufocesar@gmail.com 
Andre Luis Soares Smarra (UNESA) andre@smarra.com.br 


Angelo Agostini é um dos pioneiros na construção da linguagem sequencial dos quadrinhos. Em meio às controvérsias sobre a primeira HQ do mundo – para os norte-americanos, “The Yellow Kid”, de Richard Outcault (1863-1928), publicado esporadicamente na revista “Truth”, entre os anos de 1894 e 1895; para os ingleses, foi a revista “Comic Cuts”, com muito texto e poucos quadrinhos, lançada em 17/05/1890, pelo magnata da imprensa, Alfred Harmsworth, depois Lord Northcliffe, em Londres –, seu primeiro personagem, o caipira “Nhô Quim”, já aparecia na revista “Vida Fluminense”, na sua famosa aventura “Impressões de uma Viagem à Corte”, em 30/01/1869! O impacto desse lançamento é tanto, que essa data é reservada ao “Dia do Quadrinho Nacional”. Angelo Agostini (1843-1910), o ítalo-brasileiro, jornalista e fundador da mundialmente conhecida “Revista Illustrada” (1876), foi um abolicionista e republicano, que através de suas ilustrações e HQs – Nhô Quim e Zé Caipora –, fazia sátiras aos monarquistas, escravistas e membros da das elites brasileiras, sobretudo do cotidiano carioca. A HQ “As Aventuras de Zé Caipora” (1883), uma espécie de Tarzan tupiniquim, ganhou status internacional. O que poucos conhecem é a sua luta contra o xenofobismo de nobres, “senhores de chácara” cariocas, cidadãos brancos e cidadãos mulatos que negavam a sua negritude, que era direcionado aos escravos africanos e aos “escravos” chineses, que começaram a chegar ao Rio de Janeiro em 1812 e em 1819, já formavam uma colônia de 300 pessoas. Tal fato foi registrado por Johan Moritz Rugendas (1802-1858), em seu livro Viagem pitoresca através do Brasil, entre 1821 e 1825. Os chineses vieram para o Brasil, a fim de preencher um déficit de escravos africanos, consequência da proibição do comércio negreiro pelos ingleses, que consideraram tráfico. Esses chineses trouxeram a sua cultura do plantio de chá, além de mudas e sementes, que foram plantadas, inicialmente, na fazenda da Família Imperial, depois Jardim Botânico Real. Depois, com a chegada de mais chineses, a Fazenda Real de Santa Cruz também recebeu a cultura do chá, assim como as terras do Alto da Boa Vista, que foi ligado ao Jardim Botânico Real em 1856, por uma estrada construída por chineses. Esses chineses eram caçados, quando fugiam, e castigados impiedosamente. Sofriam os efeitos dos preconceitos da época, norteada pelas ideias de Arthur de Gobineau (1816-1882), o Conde de Gobineau, um diplomata francês, racista e xenófobo ao extremo, que viveu na corte do imperador D. Pedro II e escreveu o livro que serviu de base para as ideias racistas de Hitler, As raças humanas, em meados do séc. XIX, onde condenava o processo de miscigenação étnica do Brasil. Angelo Agostini lutou furiosamente contra o ódio destilado por parte da sociedade carioca em relação aos negros e os chineses. Mesmo depois da assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, em 1881, entre o Brasil e a china, onde o imperador D. Pedro II estava proibido de trazer chineses para o Brasil, já que eram tratados como escravos, o comércio ilegal de chineses continuou. Mais uma vez, desencadeou uma campanha feroz contra esse tráfico e contra o tratamento dado aos chineses, através de seus desenhos, que tem um complexo significado social, discutido até hoje, no campo da Semiótica. A Revista Illustrada, tornava-se assim, um pilar relativizador, graças a linguagem destes quadrinhos e de seus personagens, na luta contra o xenofobismo. O seu clássico quadrinho sobre a “evolução da espécie humana”, publicado na Revista Illustrada N.120, p. 8, de 13/07/1878, tornou-se um clássico. Nessa ilustração, observamos um escravo africano, seguido de um camponês chinês, e depois desse, um bem vestido cidadão branco, observados por um indignado cidadão mulato, já que o chinês tomara o seu lugar na escala evolutiva das culturas! Os autores do presente trabalho investigam como os personagens 100% nacionais, de Angelo Agostini, participaram dessa luta contra o xenofobismo e pelo fim da servidão, já que na década de 1880 os conflitos étnicos eram comuns na Cidade do Rio de Janeiro e em outros centros urbanos do Brasil. 

Palavras-chave: Xenofobismo. Angelo Agostini. Histórias em Quadrinhos. 

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