Sim, não é de hoje que os
quadrinhos ganham obras autobiográficas, como o celebrado Retalhos de Craig
Thompson e a obrigatória Persépolis de Marjane Satrapi e também já tivemos
histórias focando o hoje não mais tão delicado, mas relevante tema da AIDS,
como a clássica reflexão sobre o assunto pela própria Morte, irmã do Sandman,
pelas mão de Neil Gaiman e também o onipresente Maurício de Souza já trabalhou
a questão criando dois personagens, o Igor e a Vitória, que são portadores do
vírus HIV, mas poucos uniram as duas experiências como Pílulas Azuis, de Frederik Peeters.
A obra me chegou às
mãos através da indicação (e empréstimo solidário) do amigo José Carlos que me
afirmou que era a cara do blog. E ele tinha razão. Não se trata de um
dramalhão, embora tenha seus momentos mais dramáticos e nem uma cartilha,
embora saiba esclarecer muita coisa sem ser chato, e sim uma obra poética em
que o personagem/autor abre sua intimidade compartilhando a experiência de se
relacionar com alguém portadora do vírus HIV já com um filho de 3 anos que
também é portador.
Tudo levaria a um melodrama, mas Frederik é um contador
de histórias de mão cheia e sabe balancear bem o romance, humor e situações bem
ternas com um texto que flui, ora poético (... acho que as cidades engendram
constantemente desconhecidos... numa respiração lenta e vital... e, de tempos
em tempos, entre os desconhecidos, algumas pessoas especiais...), ora coloquial
(papos na cama, cortando o cabelo ou tomando café).
Pílulas
Azuis, é uma obra sensível que ao tempo que emociona, esclarece
e quebra preconceitos e com direito à debates com um mamute gigante.
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