Sem dúvida outras obras em
quadrinhos já fizeram referências literárias e brincaram com personagens da
ficção, como Neil Gaiman com Sandman, Alan Moore com sua Liga Extraordinária e
as Fábulas de Bill Willinghan, mas nenhuma foi tão contundente quanto O Inescrito de Mike Carey e Peter
Gross. Aqui o autor procura provocar o leitor com
temas que vão do sensacionalismo midiático até a efetiva capacidade dos livros
mudarem o mundo.
A história tem como fio condutor Tommy
Taylor, filho de Wilson Taylor, autor de um dos maiores best sallers dos últimos
tempos que narra as aventuras de um garoto bruxo. Ocorre que Tommy é
incessantemente comparado pelos fãs com a criação de seu pai e, logicamente, o
fato de ambos possuírem estéticas muito semelhantes às de Harry Potter e
Timothy Hunter (Personagem de Neil Gaiman nos Livros da Magia e que já levou J.
K Rowling a ser acusada de ter plagiado este na criação de Potter) não é mera
coincidência.
Porém, quando o pai de Tommy desaparece,
surge um mistério e pistas que levam à pergunta se ele, na verdade, não seria
mais do que uma inspiração para o personagem, mas o próprio personagem que
ganhou vida!
Assim, repleto de metáforas literárias, como
o encontro com o monstro de Frankenstein, boas sacadas como o inconsciente
coletivo representado pela baleia Moby Dick e conspirações milenares a grande
sacada da série são as várias possibilidades de se analisar o papel e a relevância
da leitura.
E sem
entregar as suas várias surpresas, vale destacar o volume 7 das edições
encadernadas que considero uma das melhores histórias em quadrinhos dos últimos
10 anos (foi publicada nos EUA em 2012 e aqui pela Panini em 2014), a qual trás
as edições 31 a 35 da série, sendo um interlúdio que pode ser lido mesmo por quem
não leu as anteriores, pois não aparecem os personagens principais, mas narra
como ao longo da história a publicação e divulgação de histórias são
manipuladas a fim de se garantir certos interesses, como a queima de papiros na
China, como uma charge pode iniciar uma guerra e o problema da invenção da
prensa.
Assim,
O Inescrito rompe a delicada fronteira entre o real e o imaginário
proporcionando mais do que um ótimo entretenimento, mas elevadas reflexões
sobre o papel dos livros em nossas vidas.
Boa
leitura!
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