Semana passada eu e os
professores Marcelo e Carolina realizamos junto a alguns alunos de Direito uma
oficina para debatermos a questão da família e o respectivo problema de gênero
em razão de um projeto de lei de número 6583/2013 que deseja instituir o
Estatuto da Família, com o grave equívoco (no entender deste humilde blogueiro)
de resumir seu conceito como aquela formada pela união de um homem com uma
mulher ou pela comunidade formada por qualquer um dos pais e seus descendentes.
Para tanto levei a novíssima e
espetacular obrar de Brian K. Vaughan, o primeiro encadernado de SAGA, um
quadrinho, para o espanto de alguns, que traz as aventuras de uma casal
alienígena oriundos de raças diferentes que estão em guerra e que por terem
tido um filho são caçados por ambos os governos ao colocarem em risco a
fidelidade de seus exércitos e em dúvida a legitimidade do conflito, além da
curiosidade científica sobre o fruto gerado.
Mas, qual a relação?
O principal ponto de discussão
no projeto é a grande exclusão que a lei faria sobre as outras possibilidades
de família, como casais homoafetivos, netos morando com avós ou irmãos que
perderam os pais, podendo influenciar de forma negativa na restrição de uma
série de direitos e políticas públicas de assistência, além do incremento da
própria discriminação.
Esse projeto, em verdade,
apenas tenta impor um olhar de mundo, valores próprios do grupo que representa,
sem respeitar as várias minorias existentes que no conjunto forma a maioria.
Nos quadrinhos de Vaughan há
uma passagem peculiar que foi usada na oficina. Diante da perseguição e do pequeno
bebê que chegara, o pai aconselha ficarem na “surdina”, serem mais discretos,
pois tinham uma família para cuidar.
Porém, ele é interrompido
asperamente pela nova esposa, o acusando de que ter uma família era o lema dos
perdedores, pois durante anos seu pai viveu num emprego que odiava, o que o
deprimia e que aos poucos fez com que tratasse os filhos como lixo.
E o rapaz atônito, como é
comum ao homem, não sabendo como lidar com a situação pergunta o que deveriam
fazer, tendo como resposta segura da mulher: “Quero mostrar o universo para
nossa filha”.
Bem, talvez esse seja o melhor
conceito de família que já tenha lido, pois família não é isso? Acolher, dar a
mão ao tempo que desbrava o horizonte? Estar junto nos momentos mais difíceis?
Criar, educar e mostrar sem medo tudo o que o mundo tem a oferecer, independente
da espécie, raça ou gênero?
Família é ter alguém ao seu
lado para juntos verem o universo.
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