Por
Ao analisar o mito do herói, Joseph Campbell percebeu que existe
uma espécie de roteiro básico, criado pelas mais diferentes culturas, ao
longo dos tempos, a partir dos seus universos simbólicos. Inicialmente o
herói vive de forma pacata, cumprindo suas tarefas cotidianas, até que é
desafiado por um problema que afetará a sua vida e de seus entes queridos.
Nesse momento ele teme pela sua vida com a possibilidade de enfrentar o
que desconhece. Aí surge seu mestre, em geral um sábio conselheiro, que
irá orientá-lo em sua luta. O desafio é aceito e ele se coloca diante do inimigo
mortal, numa situação onde, certamente, será derrotado. Essa é a fase
superação suprema: o herói busca força em suas entranhas vitais; lembrar-se
de seu juramento de devoção e consegue derrotar o inimigo, sentindo-se
recompensado pela certeza do dever cumprido.
Permanecendo no
mundo dos quadrinhos, podemos retirar muitos outros exemplos de adaptação
da velha receita: o juramento do primeiro Fantasma sobre o crânio
do pirata que assassinou seu pai; os conselhos do Tio Ben e a promessa do
Homem Aranha no combate contra o Mal; os passos éticos da tropa de
Lanternas Verdes que devem ser seguidos por Hal Jordan; o nacionalismo
do guerreiro Capitão América; o nunca retornar ao cotidiano normal pelo
alienígena Super-Homem.
Não devemos esquecer, contudo, que também
somos heróis, de verdade, em nossos cotidianos, ao aceitarmos os desafios
que a nossa própria existência nos impõe, seja no cotidiano, conscientizando
pessoas; nos hospitais, salvando vidas; no tribunal do júri, promovendo
justiça; no dia a dia da notícia; entregando correspondências; plantando
o alimento do amanhã; apagando incêndios, e em nossas inúmeras
atividades diárias.
Não podemos renunciar às missões que nos foram confiadas,
ainda que tenhamos que viver numa teia que também é entrelaçada
por hipocrisia, vaidade, egoísmo e sordidez, pois essa mesma teia também
é construída com amor, respeito, solidariedade, afeto, humildade, carinho,
compaixão, dedicação, justiça.
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